sábado, 9 de novembro de 2013

DESAFIOS, PROBLEMAS PARA O ENSINO DA ORTOGRAFIA NA EDUCAÇÃO BÁSICA



Francisca Silvana Rodrigues Primo

Resumo
O presente trabalho tem por objetivo nos dar subsídios para entendermos esse complexo processo de ensino da ortografia e como consequência enfocar o papel decisivo da escola e logicamente do educador como sendo o mediador desse processo. A pesquisa demonstra que o professor precisa compreender como ocorre o processo de aprendizagem, desde a primeira tentativa de escrita até o momento em que a criança começa a se preocupar com a ortografia. A partir desse conhecimento o professor iniciará sua linha de trabalho.
Palavras-chave: ortografia, escola, aprendizagem

Introdução
Segundo Celso Ferreira da Cunha, (1984, p. 74), ortografia é: “(do grego orthographia,escrita correta) é a parte da gramática que trata do emprego correto das letras e sinais gráficos na língua escrita”.
Todas as regras que norteiam esse uso, as chamadas regras ortográficas, são fruto de uma convenção social, de um acordo estabelecido pelos especialistas cujo objetivo é padronizar a escrita.
O aluno deve ser efetivamente não só informado do caráter convencional do nosso sistema ortográfico, da norma culta, mas também levá-lo a refletir sobre as semelhanças, e diferenças entre a fala e a escrita. Particularmente, deverá compreender que a escrita não é uma simples transcrição da língua oral, constituindo-se – o código oral e o escrito – em formas variantes ou alternativas da mesma.É preciso deixar claro para os alunos que, atualmente quem não domina essa convenção corretamente é discriminado.
O ensino da ortografia
O ensino da ortografia acontece assim que o estudante começa a entender o sistema da escrita alfabética, isto é, quando tiver aprendido o valor sonoro das letras e já puder ler e escrever pequenos textos. Ao trabalhar com a ortografia a escola cumpre um dos seus papéis, que é dar ao aluno acesso às regras da norma culta visto que os mesmos utilizam-se da linguagem popular.
É comum surgir dúvidas entre os professores de como trabalhar ortografia com os alunos. São muitos os fatores que dificultam a compreensão do sistema ortográfico. Inúmeras grafias justificam-se apenas por razões etimológicas, ou seja, devido a sua origem. Além disso, a língua apresenta muito mais fonemas do que as letras do alfabeto e usa diversas letras para representar um som.
Desde os primeiros momentos é papel do professor, ajudar os educandos a refletir sobre os erros ortográficos, só assim ele internaliza as regras, que por serem aparentemente complexas, vão desafiá-los a vida toda.Outro ponto é o fato de o educador evitar usar o número de erros num texto como parâmetro avaliativo, os erros são pistas preciosas para o professor planejar seu ensino, para selecionar e organizar as dificuldades de seus alunos e ajudá-los a superá-las.
Para ensinar ortografia, a maioria dos professores lança mão de cópias, ditados e exercícios de treino, sem muito êxito. O início do ensino da ortografia deve ser feita de forma sistemática, para que a criança aprenda o valor sonoro das letras e consiga ler e escrever pequenos textos. Quando este já conhece as letras, lê e escreve, mas ainda não conhece as normas ortográficas, o aluno precisa que a escola o ensine, pois no há por que esperar que os educandos das nossas escolas descubram sozinhos a forma correta de grafar as palavras.
Muitos estudiosos alertam para o fato de que o domínio da escrita alfabética nem sempre é homogêneo em cada sala de aula. Para o profissional de educação iniciar o ensino da ortografia é necessário que se faça um minucioso estudo dos erros e só assim definir estratégias para trabalhar cada dificuldade, pois esta requer modos de aprendizado diferenciado.
As dificuldades regulares, em que há um princípio gerativo, uma regra que se aplica à maioria das palavras da nossa língua, precisam ser ensinadas atravás de estratégias que levem o aluno a uma reflexão sobre a escrita, compreendendo o fato e assim produzindo juntamente com o professor a regra. É preciso que seja criado oportunidades de a criança refletir sobre tais dificuldades com relação a ortografia do seu idioma, caso contrário não se pode exigir deste, que escreva corretamente.
Por sua vez, as dificuldades irregulares, onde não há uma regra que mostre a forma correta de escrita, a única saída é mostrar ao estudante que será preciso memorizar a grafia e cabe ao professor como mediador, investigar palavras importantes, aquelas mais presentes nos textos. Nesse caso das dificuldades irregulares é uma ótima oportunidade de o educador lançar como recurso o dicionário, levando os alunos a recorrerem á pesquisa sempre que surgir alguma dúvida e assim memorizando aos poucos.

A ortografia e o processo de alfabetização
A ortografia ainda vem sendo trabalhada na escola por meio de atividades de identificação, correção de palavras erradas, seguidas de cópia e de enfadonhos exercícios.
No entanto, o professor pode desenvolver uma didática que permita ao aluno descobrir e dominar o sistema grafo-fonêmico da língua materna e suas convenções ortográficas, analisando a relação entre escrita e fala. as restrições ao emprego das letras tratando a ortografia como um modo de reflexão a respeito da língua materna.
No ensino da ortografia de palavras “irregulares”, cuja escrita não se orienta por norma. exige, primeiramente, a tomada de consciência de que, nesses casos, não há regras que justifiquem as formas corretas fixadas pela norma e, em segundo lugar, um posicionamento do professor a respeito de quais dessas formas deverão receber um maior investimento no ensino.
A posição que se defende é a de que, independentemente de serem regulares ou irregulares – definidas por regras ou não – as formas ortográficas mais freqüentes na escrita devem ser aprendidas o quanto antes. Não se trata de definir rigidamente um conjunto de palavras a ensinar e desconsiderar todas as outras, mas de tratar diferentemente, é preciso que se diferencie o que deve estar automatizado o mais cedo possível para liberar a atenção do aluno para outros aspectos da escrita e o que pode ser objeto de consulta ao dicionário.
A consulta ao dicionário pressupõe conhecimento sobre as convenções da escrita e sobre as do próprio portador: além de saber que as palavras estão organizadas segundo a ordem alfabética (não só das letras iniciais, mas também das seguintes), é preciso saber, por exemplo, que os verbos não aparecem flexionados, que o significado da palavra procurada é um critério para verificar se determinada escrita se refere realmente a ela, etc. Assim, o manejo do dicionário precisa ser orientado, pois requer a aprendizagem de procedimentos bastante complexos.
O trabalho com a normatização ortográfica deve estar contextualizado, basicamente, em situações em que os alunos tenham razões para escrever corretamente, em que a legibilidade seja fundamental porque existem leitores de fato para a escrita que produzem. A partir das experiências com a escrita, o professor deve ir mostrando para o educando a escrita ortográfica, pois é esta que ele mais usará, porque será a única forma de escrita admitida na vida escolar.
Faz-se imprescindível que o educador fique atento à produção espontânea das crianças e partindo das mesmas é que ele explicará as dúvidas sobre a escrita e ortografia que forem ocorrendo. Não é suficiente apenas corrigir as falhas, pois a criança precisa tornar-se ciente do que fez e porque precisa corrigir.
A aprendizagem da ortografia é um desafio para o professor, pois este precisa elaborar situações didáticas capazes de ajudar a criança a entender a forma convencional de escrever. O ponto central do ensino de ortografia é fazer com que o aluno se torne redator do seu próprio texto, o professor deve deixar seu papel de corretor e socializá-lo, pois assim a criança entenderá que o texto escrito por ela precisa ser compreendido por aqueles que o lerão e como conseqüência a criança revisará a ortografia com mais atenção, pois o texto deixará de ser próprio para ser público.
Conclusão
O professor deve atuar como um mediador eficiente  na aprendizagem das regras ortográficas, é dever do educador auxiliar os alunos a refletir sobre os erros ortográficos. No desbravamento do campo da ortografia, as crianças empregam os meios que estiverem ao seu alcance para adquirir conhecimento e é nesse momento que o professor deve acompanhar de perto e fazendo as devidas intervenções.
A aprendizagem da ortografia não é uma tarefa simples que se domina com mere exposição à língua escrita, pois nem sempre o universo das palavras a que a criança tem acesso  permite abstrair os princípios da norma adequadamente.

Referências bibliográficas:
CUNHA, Celso Ferreira da. Gramática da Língua Portuguesa. 10ª Ed. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura, Fundação de Assistência ao Estudante, 1984.
PCN - Parâmetros Curriculares Nacionais - Ensino Fundamental, Brasília, 1998.

REVISTA NOVA ESCOLA, É hora de escrever certo. São Paulo. Editora Abril, nº159, fevereiro, 2003.

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