Joziane Paulo
Albuquerque Lima
O
presente artigo trata da acentuação gráfica no Acordo Ortográfico. Assim dispõe
de alguns objetivos como: apresentar e discutir o sistema de acentuação gráfica
no novo Acordo; explicar, de maneira simplificada, o Acordo, no que se refere
ao emprego ou não dos acentos gráficos; analisar os critérios para a supressão
ou a manutenção de certos acentos gráficos, bem como os casos de acentuação
dupla na língua portuguesa. A idéia central desse estudo é discutir as razões
de certas atitudes dos responsáveis pelo novo Acordo e suas justificativas
apresentadas para explicar o uso ou não da acentuação gráfica em nossa língua.
O Novo Acordo
Ortográfico
O Novo
texto do Acordo Ortográfico da língua portuguesa, em vigor desde janeiro de
2009, tem causado uma série de discussões e polêmicas entre os falantes desta
língua. Sendo ideal que tais discussões e polêmicas tivessem sido debatidas
antes de ser aprovado pelas esferas governamentais.
De
acordo com a Nota Explicativa do Acordo, Anexo II “O sistema de acentuação
gráfica do português atualmente em vigor, extremamente complexo e minucioso,
remonta essencialmente à Reforma Ortográfica de 1911”. Embora a reforma de 1986
tenha defendido a abolição dos acentos nas paroxítonas e proparoxítonas, e
assim, quase se deixava de usar acentos, o Acordo de 1990, apenas elimina em
alguns casos. Reconhecendo, dessa maneira, a importância dos acentos gráficos
que, entre outras finalidades serve para “indicar a correta sílaba tônica para
os falantes nativos e estrangeiros que não desejam ou não podem cometer erros
de pronúncia” (BECHARA, 2009, In: ESTADÃO,
online, 24 de janeiro). Além de
“assinalar a tonicidade das vogais sobre as quais recaem os acentos gráficos,
distingue também o timbre destas” (NOTA EXPLICATIVA DO ACORDO – ANEXO II).
Assim é que se sabe se uma palavra deve ser pronunciada de forma aberta ou
fechada.
Acento tônico e
acento gráfico
Ao falar
de acentuação, cabe fazer a distinção entre acento tônico e acento gráfico.
Quase todas as palavras da língua portuguesa apresentam uma sílaba que é
pronunciada com mais força, isto é, uma sílaba tônica. Assim, a grande maioria
das palavras de nossa língua possui acento tônico, ou seja, o “que corresponde
à maior intensidade sonora com que se pronuncia certa sílaba – a sílaba tônica”
(CEREJA, e MAGALHÃES, 1999, p. 66). Enquanto que, um número bem menor, mas
significativo, possui sinal gráfico, o “sinal utilizado para indicar a sílaba
tônica de certas palavras” (ibidem). Dessa maneira, algumas perguntas são bastante
pertinentes: Em quais palavras deve se usar o sinal gráfico? Que regras
norteiam o uso o não do acento gráfico? Qual é a importância da acentuação
gráfica para a leitura e a escrita do português?
A acentuação
gráfica
Como
se sabe, existem regras que norteiam o emprego ou não da acentuação gráfica.
Embora sejam complexas, é possível entender, na maioria dos casos, os
princípios de tais normas. Pode-se tentar compreendê-las a partir do que afirma
o professor Kury
Examine, leitor, os objetos que o cercam
e verifique um fato que vai ter importância para você compreender o porquê da
nossa acentuação gráfica: os vocábulos que os designam, em sua grande maioria,
terminam nas vogais a, e, o e são paroxítonas (...) com base nessa estatística,
estabeleceu-se um dos princípios da nossa acentuação gráfica: os paroxítonas terminados
em – a, - e, o (seguidos ou não de s), por serem os vocábulos mais freqüentes
em nossa língua, dispensam acento indicador da sílaba tônica. (KURY, apud, DE NICOLA, 2005, P. 40).
Assim,
entende-se que a maioria das palavras em português, que são paroxítonas, não
recebe, em geral, acento gráfico.
A
importância do sistema de acentuação gráfica da língua portuguesa não está
apenas em assinados a tonicidade das vogais sobre as quais recaem os acentos
gráficos, mas também em distinguir o timbre com que são pronunciadas as
palavras. E também em “evitar confusões quanto à leitura e à compreensão de
certas palavras, principalmente quando têm a mesma grafia” (CEREJA, e
MAGALHÃES, 1999, p. 66).
No
entanto, essa idéia de que o acento gráfico serve para facilitar a compreensão
de palavras homógrafas, é invalidado pelo novo Acordo.
A supressão de
acentos gráficos nas oxítonas e paroxítonas
O novo
texto ortográfico, com o objetivo de unificar a língua portuguesa para que
alcance prestígio internacional, eliminou alguns acentos, cuja finalidade era
distinguir palavras homógrafas. Assim,
as palavras “cor (ô), substantivo e cor (ó), elemento da locução de cor; colher
(ê), verbo, e colher (é), substantivo”, (3.º da base VIII do novo Acordo), que
no Brasil, já não se usava acentuação gráfica, não devem ser acentuadas
graficamente. Porém, excetua-se a forma verbal pôr, que recebe o acento
gráfico, para distinguir da preposição por. Por que razões não deixam de se
acentuar a forma verbal pôr? Talvez ele devesse desaparecer, pois, um dos
critérios utilizados para suprimir o acento de palavras de mesma grafia é que
dá para compreendê-las pelo contexto. Por acaso não é possível, pelo contexto,
também distingui-las?
O mesmo
ocorre com as paroxítonas em que o novo Acordo (9.º e 10.º, da base IX)
dispensa o uso seja do acento agudo, seja do circunflexo, cuja função é a
distinção das palavras homógrafas: “para (á), flexão de parar, e para,
preposição; pela (s) (é), substantivo e flexão de pelar, e pela(s), combinação
de por e la (s); pelo (é), flexão de pelar, pelo (s) (é), substantivo ou combinação de per e lo
(s); polo (s) (ó), substantivo, e polo
(s), combinação antiga e popular de por e lo (s); etc.” (9.º, base IX).
Da mesma
forma, extingue-se o acento gráfico das palavras paroxítonas homógrafas
heterofônicas cuja função do acento era distingui-las. Assim é que não são
acentuadas graficamente palavras como
Acerto (ê), substantivo, e acerto (é),
flexão de acertar; acordo (ô), substantivo, e acordo (ó), flexão de acordar;
cerca (ê) substantivo, advérbio e elemento da locução prepositiva cerca de, e
cerca (é), flexão de cercar; coro (ó), substantivo, e flexão de corar; deste
(ê), contração da preposição de com o demonstrativo este, e deste (é), flexão
de dar; fora (ô), flexão de ser, ir; e fora (ó), advérbio, interjeição e
substantivo; piloto (ô), substantivo, e piloto (ó), flexão de pilotar, etc.
(10, base IX).
No nosso
caso, no português brasileiro já não se acentuava graficamente estas
paroxítonas. Assim, vê-se que é plausível a não acentuação de tais palavras,
uma vez que, segundo a “Nota Explicativa do Acordo Ortográfico da Língua
Portuguesa”. O anexo II do Acordo
a supressão de tais acentos se justifica
pela coerência com a abolição do acento gráfico já consagrada pelo Acordo de
1945, em Portugal, e pela Lei n.º 5.765, de 18/12/1971, no Brasil, em casos
semelhantes (...) [e] porque, tratando-se de pares cujos elementos pertencem a
classes gramaticais diferentes, o contexto sintomático permite distinguir
claramente tais homógrafas.
No
entanto, como já foi dito, o acento diferencial, quase abolido de vez, está
reduzido a acento obrigatório no verbo “pôr”, e “pôde (3.ª pessoa do singular
do pretérito perfeito do indicativo), no que se distingue da correspondente forma
do presente do indicativo (pode)” (OBS.:
DO ITEM a, 6.º, BASE IX) e é facultativo em “dêmos”, forma do conjuntivo do
verbo “dar e fôrma, substantivo, para distinguir de forma (substantivo; ou do
verbo formar). Dessa maneira, se o objetivo do acordo é simplificar a língua,
seria mais coerente eliminar de vez o acento diferencial. Assim, concorda-se
com as palavras de Alves (2005) em um artigo publicado na internet “não percebo a necessidade de acento em ‘dêmos’ e em
‘fôrma’. O primeiro não se usa no Brasil ao contrário do que sucede em Portugal. O segundo só
se usa no Brasil. Serão estes acentos o resultado de cedências mútuas como
existem em todas as negociações? Felizmente, são facultativos. Não espero
usá-los”. Igualmente, também não é necessário acentuar graficamente as formas
verbais “pôr” e “pôde”, uma vez que o primeiro destina-se a distinguir-se da
preposição por e, portanto, de classes gramaticais diferentes, podendo, pelo
contexto sintático, ser diferenciadas. O segundo, embora pertença a mesma
classe gramatical (pode, pôde) pode, também ser diferenciada pelo contexto.
De
acordo com o novo texto ortográfico não se acentua graficamente os ditongos ei e oi
tônicos das paroxítonas. Palavras como assembleia, ideia, heroico, jiboia,
paranoico, etc, passarão a ser escritas sem o diacrítico. A supressão dos
acentos nessas palavras se justifica pelo fato de palavras como comboio,
dezoito, estroina, etc, em que há oscilação de timbre, sendo facultativo o
emprego do acento agudo no Brasil. Dessa maneira, eliminando-se os acentos
nesses casos permite
Eliminar uma diferença entre a prática
ortográfica brasileira e a lusitana, mas ainda pelas seguintes razões:
A) Tal supressão é coerente com a já
consagrada eliminação do acento em casos de homografia heterofônica (...)
B) No sistema ortográfico português não
se assinala, em geral, o timbre das vogais tônicas a, e e o das palavras
paroxítonas, já que a língua portuguesa se caracteriza pela sua tendência para
a paraxitonia (...) (NOTA EXPLICATIVA DO ACORDO, ANEXO II).
Como se
vê, o uso do diacrítico para assinalar a abertura dos ditongos ei e oi
nas paroxítonas constitui um empecilho à unificação ortográfica, já que o
timbre nem sempre é o mesmo entre as duas ortografias, sendo que, como já foi
explicado, o acento, nesses casos, torna-se dispensável.
Supressão em
paroxítonas terminadas em “oo”
O acento
também é dispensado em paroxítonas terminadas em “oo” como nas palavras enjoo, povoo, voo, etc. (8.º, BASE IX),
pelas mesmas razões das paroxítonas já citadas. Na Nota Explicativa do Acordo,
anexo II lê-se
o uso do acento circunflexo não tem aqui
qualquer razões de ser, já que ele ocorre em palavras paroxítonas cuja vogal
tônica apresenta a mesma pronúncia em todo o domínio da língua portuguesa. Além
de não ter, pois, qualquer vantagem nem justificação, constitui um fator que
pertuba a unificação do sistema ortográfico.
Pelas
mesmas razões, suprimiu-se os diacríticos das paroxítonas verbais que têm um e tônico oral fechado em hiato com a
terminação – em da 3.ª pessoa do plural do presente do indicativo do
conjuntivo: creem, deem, descreem, desdeem, leem, preveem, redeem, releem,
reveem, tresleem, vêem (7.º, da BASE IX).
No
entanto, são grafadas com o acento circunflexo as formas verbais têm e vêm
plural, para distingui-las do singular tem, vem, que foneticamente são
paroxítonas. Acentuam-se graficamente as formas correspondentes abstêm, advêm,
contêm, convêm, detêm, mantêm, etc. para diferenciar das suas respectivas
formas de 3.ª pessoas do singular.
Abstraiu-se
o acento agudo nas vogais tônicas escritas com i e u quando paroxítonas,
precedidas de ditongo como em feiúra, baiúca, maioismo.
Os
verbos arguir e redarguir não são graficamente acentuados nas formas
rizotônicas arguo, arguis. Também os tipos verbais averiguar, desaguar,
enxaguar, delinguir e afins têm dupla pronúncia podem ou não receber acento
gráfico: averíguo / averiguo, enxáguas / enxaguas, delínquo / delinquo. O uso
nesse caso é facultativo. Quanto ao emprego do acento grave, nada mudou, continuam
as mesmas regras.
Suprimiu-se
os acentos gráficos das palavras derivadas como nos advérbios em – mente,
derivados de adjetivos com acento agudo ou circunflexo como em avidamente de
ávido, debilmente de débil, facilmente de fácil, etc. é importante salientar
que no Brasil, não se empregava mais os acentos nessas palavras, no entanto
eram utilizados pelos portugueses. A supressão se justifica porque seria um
empecilho à unificação ortográfica. Igualmente, abstraíram-se os diacríticos de
palavras derivadas que contêm o sufixo iniciados por z e cujas formas de base
apresentam vogal tônica com acento agudo ou circunflexo como em aneizinhos,
avozinha, avozinho, lampadazinha, pessegozito, etc. Também estas palavras já
não eram acentuadas graficamente no português brasileiro.
A dupla
Acentuação
Como se
sabe, existem significativas diferenças entre a pronúncia do português
brasileiro e o de Portugal. Essas diferenças constituem um dos maiores
obstáculos para a unificação de nossa língua. Embora, muitos compartilhem da
idéia de que “estão destinadas ao fracasso mudanças ortográficas que tentem
uniformizar grafias que correspondem a claras diferenças de pronúncia” (ALVES,
2005), o texto ortográfico se propõe a unificar as grafias sem mudar a
pronúncia das palavras. Isso decorre em respeito aos falantes nativos, uma vez
que, não se deve interferir na maneira de falar das pessoas, pois seria um
atentado contra o seu patrimônio individual, que constitui a sua identidade.
As
divergências no que diz respeito à acentuação gráfica entre as duas realizações
da língua, naturalmente surgem, exigindo, assim, soluções. Para procurar
resolver essa questão, tinham-se duas opções: uma era conservar a dupla
acentuação, que, como já foi dito, compromete a unificação ortográfica, a outra
era abolir os acentos gráficos, mas tal solução foi amplamente contestada por
uma significativa parcela da opinião pública portuguesa, que foi logo
descartada. Assim, após vários estudos, optou-se pela dupla acentuação, sendo
que se uma vogal tônica é pronunciada aberta, recebe acento agudo; se soa
fechada, grafa-se com acento circunflexo. Dessa forma, o acordo ortográfico
estabelece ortografias duplas para certo número de palavras, isto se verifica
tanto nas oxítonas como nas paroxítonas e proparoxítonas. Os casos de dupla
acentuação são um dos mais criticados. Assim, lê-se em Emiliano (2008) “um dos aspectos mais atrozes do Acordo
Ortográfico de 1990, a consagração de grafias duplas (que em determinadas palavras
e combinatórias resulta em multigrafias) - aspecto que põe em causa a
subsistência do próprio conceito de ortografia”. Ainda, segundo o autor, no
mesmo texto publicado online, em que
se faz severas críticas ao acordo, talvez por ser português e muito apegado a
tradição, o Acordo Ortográfico
pelo simples facto de consagrar a
existência de grafias duplas de forma irrestrita, constitui atentado grave
contra a integridade do conceito de ortografia, logo, atentado contra a
qualidade do ensino e contra o desenvolvimento. A ortografia não é apenas patrimônio
cultural do povo português: sendo um sistema de codificação da língua escrita,
o domínio da ortografia é a ferramenta que dá acesso a toda as áreas do saber.
A Estabilidade ortográfica é, portanto, um bem que importa preservar: pôr em
causa a estabilidade ortográfica é atentar contra a qualidade do ensino, contra
a integridade do uso da língua e contra o desenvolvimento cultural e cientifico
do povo português. (ibidem).
Embora
tenha razões em alguns pontos, cabe reconhecer que há certos exageros e que,
várias mudanças já ocorreram na língua portuguesa e não comprometeram o
desenvolvimento cultural, intelectual e científico de seus falantes.
A dupla
Acentuação nas oxítonas
Nas
oxítonas (obs.: a, 1.º da base VIII), encontra-se algumas divergências de
timbre em umas poucas palavras
terminadas em e tônico, geralmente
provenientes do francês, esta vogal, por ser articuladas nas pronúncias cultas
ora como aberta ora como fechada, admite tanto o acento agudo como o acento
circunflexo: bebé ou bebê, bidé ou bidê, canapé ou canapê, caraté ou caratê,
choché ou chochê, guiché ou guichê, matiné ou matinê, nené ou nenê, ponjé ou
pongê, puré ou purê, rapé ou rapê.
Existe um caso ou outro de oxítonas terminadas em o que
ora soa aberto, ora fechado como cocó ou cocô, ró ou rô. Como já foi
mencionado, a dupla acentuação se justifica em razão das divergências entre
pronúncias do português brasileiro e o europeu, sendo essa medida a mais viável
para os responsáveis pelo Acordo.
A dupla
Acentuação nas paroxítonas
Como já
se sabe, as paroxítonas não são em geral acentuadas, sendo poucas palavras que
recebem o acento gráfico. Os casos especiais de dupla acentuação também ocorrem
nas paroxítonas, uma vez que, apresentam oscilações de timbre. Assim sendo,
podem receber tanto o acento agudo como o circunflexo como nos casos citados no
acordo (obs.: a, 2.º da base IX) “sémen, e sêmen; xéron e xêron, fémur e fêmur;
vómer e vômer; fénix e fênix, ónix e ônix”. O mesmo ocorre com as paroxítonas
que se pronunciadas abertas, recebem o acento agudo e, pronunciadas fechadas,
grafam-se com o circunflexo: pónei e pônei; gónis e gônis; pénis e pênis; ténis
e tênis; bónus e bônus; ónus e ônus; tónus e tônus; vénus e vênus. Essas
oscilações ocorrem em poucas paroxítonas em que apresentam vogais tônicas
grafadas com e e o em fim de sílaba, seguidas das consoantes nasais grafadas m e n. Os
casos de dupla acentuação nas paroxítonas são justificadas pelas mesmas razões
das oxítonas.
A dupla
Acentuação nas proparoxítonas
O acordo
ortográfico estabelece também ortografias duplas para certo número de palavras
proparoxítonas. Todas as proparoxítonas são graficamente acentuadas, levando
acento agudo, quando a vogal é pronunciada aberta e acento circunflexo quando
soa fechado. No caso da acentuação dupla, transcreve-se a seguir:
Levam acento agudo ou acento circunflexo
as palavras proparoxítonas, reais ou aparentes, cujas vogais tónicas/ tônicas
grafadas e ou o estão em final de sílaba e são seguidas das consoantes nasais
grafadas m ou n, conforme o seu timbre é, respectivamnete, aberto ou fechado nas
pronúncias cultas da língua: académico / acadêmico, anatómico / anatômico,
cénico / cênico, cómodo / cômodo, fenómeno / fenômeno, género / gênero,
topónimo / topônimo, Amazónia / Amazônia, António / Antônio, blasfémia /
blasfêmia, fémea / fêmea, gémeo / gêmeo, génio / gênio, ténue / tênue. (3.º,
BASE XI).
As
divergências decorrentes das vogais tônicas e
e o seguidas das consoantes
nasais m e n com as quais aquelas não formam sílaba, ocorrem porque em
Portugal e em países africanos são pronunciadas abertas e no Brasil soam
fechadas.
É
interessante fazer a distinção entre proparoxítonas reais e proparoxítonas
aparentes. As “esdrúxulas reais são palavras que não são esdrúxulas aparentes,
como, por exemplo, ‘matemática’, que tem a divisão silábica ‘ma-te-má-ti-ca’”.
(ALVES, 2005). Enquanto que uma palavra é esdrúxula aparente quando
Termina com um ditongo crescente. Um
ditongo é um conjunto de duas vogais que pronunciam numa única emissão de voz,
como, por exemplo, “oi” em “dói” e “ão” em mão”. Ditongos decrescentes são
aqueles em que a primeira vogal é mais saliente que a segunda. Serve de exemplo
“oi” em “moita”. Nos ditongos crescentes sucede o contrário – a segunda vogal
sobressai relativamente à primeira. (ibidem).
São
exemplos de proparoxítonas ou esdrúxulas aparentes, ou seja, terminadas em
ditongos crescentes: náusea, glória, barbárie, amêndoa, Amazônia, argênteo,
mântua, etc. Mesmo sendo aparentes, são proparoxítonas e por isso devem ser
acentuadas.
No
entanto, ao tratar da acentuação dupla, existe exceção, por exemplo, cômoro,
sêmea e sêmola não existem duas formas de grafarem essas palavras. Há que
atentar para a palavra fêmea, que segundo o acordo, admite dupla acentuação, no
entanto, segundo Alves (2005), a palavra fémea não existe em nenhum dicionário,
não tendo assim ortografia dupla.
Considerações
finais
A
questão das grafias duplas, mesmo sendo severamente criticada, Alves (2005)
escreve “na minha opinião, o acordo de 1990 é equilibrado e tem cedências de
todas as partes. Uniformiza o que é possível uniformizar. Não humilha ninguém”.
É de se reconhecer que os acentos auxiliam a aprendizagem de novas palavras, de
termos técnicos e científicos, e que a sua eliminação ou opção por um único
acento, prejudicaria e comprometeria o modo de escrever, falar e se comunicar em Língua Portuguesa ,
especialmente, para os já falantes dessa língua. Então, a acentuação dupla foi
a solução menos onerosa encontrada pelos ortógrafos. Mesmo tendo os acentos a
sua importância, há quem concorde e defenda a sua eliminação, achando que no
futuro isso é o que irá ocorrer.
Procurou-se
nesse artigo, analisar os casos mais especiais referentes ao sistema de
acentuação gráfica no Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990),
especialmente as bases VIII a XIII. Os casos mais comuns e que não sofreram
alterações não foram discutidos nesse estudo. Como
se viu, o sistema de acentuação gráfica deve ser discutido e debatido, pois é
merecedor de críticas, no entanto, admite-se que as mudanças ocorridas são
decorrentes de boas intenções de lingüistas, cujo objetivo é unificar as
ortografias da língua portuguesa.
Referências Bibliográficas
ALVES,
João Manuel maia. Acordo Ortográfico: Esdrúxulas com divergências. Disponível
em santric@sapo.pt e santric e 8@gmail.com. Escrito em 2005.
CEREJA,
William Roberto; MAGALHÃES, Thereza Cochar. Gramática
Reflexiva: texto, semântica e interação. São Paulo: Atual, 1999.
EMILIANO,
António. Acordo Ortográfico: pareceres ignorados, deveres do Estado e direitos
dos cidadãos. Disponível em http://revistaautor.com/index.php?option=com_content&task=
view&id=259&Itemid=1-Setembro de 2008.
GRÁFICA,
Sistema de Acentuação (Bases VIII a XIII) – anexo II – Nota Explicativa do
Acordo ortográfico da Língua Portuguesa (1990). Postado por silviaaraujomota às
20.04.09. Disponível em http://clubedalinguaport.blogspot.com/2009/04/5–sistema-de-acentuação-gráfica
– bases.html.
KURY,
Adriano da Gama. Apud DE NICOLA,
José. Português: ensino médio, volume I.
São Paulo: Scipione, 2005.
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